Arthur Feltraco

O Motion grafic é uma área de atuação com amplas possibilidades de trabalho. Se desenvolveu a partir da criação de aberturas para cinema e TV, se destacou com os clipes de música na década de 1980, se diversificou com o desenvolvimento dos recursos digitais e foi se consolidando também como uma área de especialidade do design.
Nos últimos anos se ampliaram opções de cursos, inclusive cursos de pós-graduação em Motion design. As instituições que fazem premiações de design, como as Associações de profissionais, passaram a reconhecer a categoria de Motion design. Também se observa o aumento de ofertas de trabalho seja em empresas de software, agências de publicidade, estúdios de animação, cinema ou televisão, seja como trabalhos freelance.
Como essa é uma área de estudo e de atuação profissional ainda recente, tanto os conceitos como os métodos de trabalho e as recomendações para melhorar a usabilidade vêm sendo aprofundados e discutidos. Os métodos de trabalho em Motion design envolvem tanto metodologia de projeto de design como os recursos e técnicas do cinema e da animação. E estudos recentes reúnem recomendações de diferentes áreas na elaboração de diretrizes para os projetos.
Selecionamos algumas dicas e recomendações úteis e apresentamos exemplos de trabalhos elaborados pelo Motion designer e animador Arthur Feltraco, incluindo animações para um projeto do câmpus Palhoça bilíngue que tem como objetivo a produção de recursos educacionais digitais para estudantes surdos.

Motion grafic e Motion Design

Arthur Feltraco

Os trabalhos de Motion grafic, ou seja, a criação de materiais gráficos com movimento, podem ter um foco artístico, como poesia visual ou obras experimentais.

Arthur Feltraco

Mas também podem ser trabalhos de Motion grafic design, o que envolve uma atividade projetual. 

Apesar das fronteiras entre arte e design nem sempre serem tão nítidas, um projeto de design precisa ter objetivos claros, um método de trabalho estruturado de forma que possa contribuir para se atingir os resultados esperados, um público específico, uma preocupação com a acessibilidade e uma forma de avaliar a experiência do usuário.

O motion designer desenvolve trabalhos variados, como:

– aberturas e transições para filmes, programas de TV e mídias digitais;

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– materiais educacionais;

– infográficos animados; 

– clipes de música;

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– publicidade;

– gifs para redes sociais,

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– vídeos explicativos;

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– logotipos animados;

Arthur Feltraco
Arthur Feltraco

No design, os elementos não são aleatórios e não servem para enfeitar o material, mas cumprem funções específicas e visam provocar determinadas reações. Além do conteúdo textual e dos elementos gráficos, também a fluidez e o ritmo do movimento são planejados de forma intencional, explorando conhecimentos sobre os princípios do design e da animação.
Veja, por exemplo, que a animação da tipografia não apenas destaca uma informação, mas o movimento acrescenta significado e faz diferença.

Arthur Feltraco

Nesse detalhe do vídeo, o que vemos não é apenas um “não”, é um “não” retumbante. Chama a atenção, a informação é mais facilmente memorizada e nos instiga a refletir sobre os preconceitos.

Arthur Feltraco

Nesse trabalho, o vídeo apresenta depoimentos dos pais de crianças autistas, enquanto as animações, de forma delicada e sensível, nos mostram a forma de perceber das crianças.
Arthur Feltraco nos contou que o desenvolvimento do trabalho envolveu um amplo estudo sobre o tema e muitos esboços até chegar em uma forma simplificada e significativa para representar a forma de perceber das crianças. Em seu processo criativo, Arthur não concebe as imagens e depois cria os movimentos, essas coisas são pensadas de forma integrada. No entanto, destaca que os diferentes tipos de trabalhos exigem ações também diferenciadas.

Motion design: metodologia

Um trabalho de Motion design é um processo elaborado, geralmente demorado, e não basta arrastar alguma coisa de um lado para outro ou fazer saltitar um objeto. Isso pode mesmo atrair a atenção para algo sem importância, no momento errado, desviando o interesse ou mesmo irritando o observador. Por isso, utilizar um método projetual adequado é útil para que se alcancem os resultados pretendidos de forma mais ágil.
Mas uma pesquisa desenvolvida por Cardoso (2014) observou que, dependendo do profissional e do tipo de projeto, alguns trabalhos seguiam as etapas que se aproximavam mais do fluxo produtivo da animação, enquanto outros seguiam a metodologia de projeto do design.

Na animação, o processo criativo não perpassa necessariamente por uma metodologia, mas sim por uma sequência de etapas da produção. Isso significa que, diferentemente do design, seu processo não está alicerçado no estudo dos métodos, instrumentos e ferramentas, mas sim um fluxo produtivo. Além disso, não há um problema ou uma necessidade a serem solucionados obrigatoriamente, mas sim uma informação ou história a ser comunicada.

 (Cardoso, 2021, p.144)

Visando organizar as atividades na produção de um Motion design, guiar as atividades das equipes e tornar mais didático o entendimento do processo, o autor propôs uma metodologia específica para os projetos de Motion design. O modelo pode ser adaptado para diferentes particularidades dos projetos e preferências dos profissionais e reúne conhecimentos e práticas tanto do design quanto da animação.

(Cardoso,202, p. 154)

O processo é dividido em dois momentos, um de planejamento e outro de execução do projeto, que são ainda divididos nas fases de Diagnóstico, Direcionamento, Desenvolvimento e Desfecho.

A partir de uma demanda e do briefing (entrevista com o cliente), é feito o Diagnóstico que aprofunda as informações e analisa a pertinência, relevância, viabilidade, o contexto, possíveis usuários e seus interesses, referências visuais e de conteúdo.

Para o autor, o diagnóstico inclui além da pesquisa, a conceituação, a geração de alternativas e uma proposta preliminar. Se a proposta não for aprovada, o projeto retorna à primeira etapa do processo e o fluxo se repete até que a proposta alcance os objetivos.

O Direcionamento inclui o roteiro, storyboard e styleframe. O roteiro desenvolve a narrativa e é pensado de forma a integrar a linguagem verbal e visual. O Storyboard combina o roteiro escrito com esboços, e o styleframe é o estudo da identidade visual incluindo determinar o estilo gráfico, cores, texturas, tipografia, etc.

O Desenvolvimento é a etapa de gravação do áudio e elaboração do design gráfico das telas, ilustrações e outros elementos que servirão de base para a animação. Pode incluir o animatic, um protótipo animado muito útil para testes de temporização.

Na fase de Desfecho, é feita a animação dos elementos, edição, montagem, efeitos e o refinamento final. Na finalização, os arquivos são convertidos para o formato adequado e é feita a apresentação para o cliente.

Em cada etapa são feitos testes e validações. A metodologia proposta é flexível e pode ser adaptada para diferentes particularidades e preferências.

Dicas e recomendações

Como os trabalhos são mesmo variados, os estudos que propõem diretrizes e recomendações para os projetos de Motion design são muito específicos. Encontramos pesquisas com recomendações para Motion design aplicados em elementos da interface que enfatizam a experiência do usuário, estudos sobre design da informação que destacam a clareza e organização das informações, estudos sobre Motion design em recursos educacionais com foco na acessibilidade, além dos estudos que abordam os princípios da animação aplicados em diferentes tipos de trabalhos.

Os princípios da animação desenvolvidos pela Disney e adotado nos estudos de animação são mesmo fundamentais.

Quando as diretrizes do motion design são ignoradas, o movimento incorpora características não encontradas no mundo natural. Nenhuma quantidade de esplendor estético pode superar a falta de jeito resultante. (…) Um gráfico fantasticamente detalhado e de boa aparência não é eficaz se o ritmo for estranho ou não combinar com outros elementos, como o som.

(Bowers, tradução nossa)

Nos trabalhos de Motion design para recursos educacionais também existem recomendações específicas relacionadas com os diferentes aprendizes e as diferentes formas de aprender. O projeto de Motion design deve estar a serviço de uma concepção pedagógica clara e com foco na acessibilidade. Não basta adicionar imagens, sons e movimento às palavras para facilitar a compreensão e memorização das informações.
No que se refere ao desenvolvimento de recursos educacionais para surdos, as imagens e especialmente as imagens em movimento são muito valorizadas, apesar de nem sempre adequadas.

Lucas Müller de Jesus (2013), em sua dissertação de mestrado, pesquisou diretrizes para o uso de Motion design na educação de surdos e recomenda que:

– O desenvolvimento do trabalho deve promover a interação entre o designer e o profissional de educação em Libras para que a informação seja apresentada considerando as características dos surdos;

– O uso de elementos gráficos deve ser moderado, o uso exagerado e não planejado pode prejudicar a informação em Libras;

– O uso de vinhetas de abertura e transição devem contribuir para a localização e compreensão da estrutura do conteúdo;

– A iluminação e o contraste entre a cor da pele do intérprete, a camisa e o fundo devem ser adequados para uma boa legibilidade;

– É útil explorar a interação do intérprete com os elementos gráficos, ilustrando e reforçando o tema abordado;

– É importante valorizar a Libras e explorar o Motion design como algo complementar no processo de ensino e aprendizagem.

Os projetos de Recursos educacionais digitais para estudantes surdos, que estão em desenvolvimento no câmpus Palhoça bilíngue são exemplos de aplicação desses princípios.

REDS ACESSÍVEIS PARA SURDOS

O projeto de extensão Produção e Disponibilização de Recursos Educacionais Digitais Bilíngue (Libras – Português) para o Ensino Médio e Técnico para as Redes de Ensino no Brasil é uma parceria do IFSC câmpus Palhoça bilíngue com a SETEC/MEC e visa contribuir para ampliar a o acesso da comunidade surda a recursos educacionais referentes aos conteúdos básicos do Ensino Médio e Técnico.

A produção dos materiais bilíngues tem como destaque o desenvolvimento de Motion design como recurso para facilitar a aprendizagem dos surdos.

(Cardoso,202, p. 154)

O design partiu de uma identidade visual flexível, diferenciando as áreas de conhecimento. Foram criadas vinhetas, transições e diferentes cenários que abrigam elementos animados complementando a sinalização em Libras.

Além da preocupação com a legibilidade, tanto das imagens animadas como da sinalização, foram explorados contrastes e ritmos, direcionando o olhar do observador, hora para as animações, hora para a informação verbal na língua de sinal.

Conforme Diego Urrutia, o projeto buscou contemplar a forma visual de aprendizagem dos surdos, integrando a língua de sinais com os elementos de Motion design. Além disso, vários aspectos da língua de sinais foram valorizados. Um importante recurso da Libras é a distribuição dos elementos no espaço e a apontação. Quando o intérprete sinaliza, ao se referir à uma pessoa ou objeto, ele indica uma posição no espaço, e quando se refere a eles novamente, aponta para o mesmo lugar. Isso foi um aspecto considerado na distribuição dos elementos gráficos, buscando integrar animações e a língua de sinais.
Outro aspecto destacado no projeto é a organização do texto. Na língua de sinais, os exemplos, geralmente, são apresentados antes da definição dos conceitos. Isso facilita a percepção visual do que será apresentado a seguir.
Levando em consideração que entre os surdos existe uma grande heterogeneidade na amplidão do vocabulário e no conhecimento de mundo, muitas vezes, é preciso oferecer um glossário ou definir antes alguns termos que serão usados na apresentação de um conteúdo.
O trabalho buscou valorizar a cultura visual e explorar situações relacionadas com o cotidiano dos surdos. Isso pode ser atrativo, além de facilitar a aprendizagem.

Referências

Recomendações sobre design informacional aplicado em motion graphics
André Luiz Fronza, Arina Blum, Mary Vonni Meürer de Lima
Compelling and Moving: A Guide to Motion Design Principles
By Micah Bowers
https://www.toptal.com/designers/ux/motion-design-principles
Creating Usability with Motion: The UX in Motion Manifesto
Issara Willenskomer
https://medium.com/ux-in-motion/creating-usability-with-motion-the-ux-in-motion-manifesto-a87a4584ddc
Motion graphic design como ferramenta de educação a distância em Libras
Lucas Müller de Jesus
Balizamento conceitual do Motion graphic design
Washington Dias Lessa; Isabel Xavier Freire
Motion design no Brasil: uma proposta de metodologia
Arthur Henrique Oliveira Cardoso
Motion Design: Análise sobre metodologias para o desenvolvimento de diretrizes projetuais.
João Manuel Rodríguez Corrêa
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