Narrativa é a ação de narrar uma história. Isso envolve não apenas o enredo, mas o detalhamento dos personagens, tempo e espaços para situar o leitor ou espectador e envolvê-lo na história. E as histórias sempre têm começo, meio e fim, planejados com diferentes ritmos para criar o clima tenso, alegre, romântico ou aterrorizante, por exemplo.
Já o termo imersão é o ato ou efeito de imergir, afundar, mergulhar num fluido ou líquido. Também usamos o termo para falar da entrada de alguém em um ambiente, real ou imaginário.
Segundo o pesquisador Arlindo Machado, autor do livro O sujeito na tela, a imersão é um conceito que se refere a um modo como as pessoas podem “entrar” ou “mergulhar” nas imagens.
A tendência de mudança no comportamento do espectador com a cultura do computador, tem feito com que a literatura e o próprio cinema busquem promover experiências menos passivas de fruição.
O espectador não é apático, mesmo que tenha apenas uma participação interpretativa e não interaja com a sequência da história, mas ao longo do tempo os autores tem buscado formas de provocar maior engajamento do público.
Essas produções exploram desde uma narrativa não linear, conteúdos com excesso de informações, tramas complexas ou planos rápidos exigindo do espectador muito mais atenção, até o cinema interativo, que se aproxima da narrativa dos games.
Veja alguns filmes com exemplos de uma narrativa de não-linearidade temporal (Corra Lola Corra), narrativa de desconstrução espacial (Quero Ser John Malkovich), narrativa com sobreposição de ações/telas (Timecode) e que permite a escolha do usuário (Entre Vilas).
Na narrativa de imersão o principal desafio é quebrar a barreira entre espectador e narrador para promover a imersão do usuário. Mas enquanto o cinema tradicional tem uma temporalidade e espacialidade definida, a hipermídia tem a força de transcender o tempo e o espaço.
Em projetos de hipermídia, as narrativas imersivas envolvem as pessoas por meio da interação na realização de uma determinada história fazendo com que o interator decida por onde quer iniciar e seguir no mundo ficcional, sendo ele o narrador da sua própria história. A história oferece múltiplos caminhos e destinos.
E para fazer isso os projetos hipermidiáticos exploram tanto o conteúdo quanto a interface. Uma obra interativa e não-linear trabalha com aspectos de linguagem e tecnologia envolvendo diferentes áreas do conhecimento como design, programação e audiovisual.
A roteirização segue as mesmas regras do audiovisual acrescentada dos elementos: não-linearidade, interatividade e múltiplos pontos de vista. Em um filme interativo, o autor e o roteirista não fazem vários filmes, mas um roteiro programado para ter um texto fílmico coeso, embora explore a história em diferentes versões. E isso implica uma programação da narrativa, ou seja, precisa ter um roteiro não apenas do conteúdo audiovisual, mas também para planejar as associação entre os recursos técnicos que conduzem a navegação não-linear. O trabalho envolve então as seguintes etapas:
ETAPAS
Pesquisa: formatos, narrativas, público alvo etc;
Definição de tema, storyline e argumento;
Definição de requisitos de programação;
Criação de fluxograma (links, trajetórias possíveis);
Criação de conteúdo (roteiro com cenas de acordo com o fluxograma);
Criação de storyboard de telas.
Veja dois exemplos de recursos educacionais digitais multimídia que exploram características de narrativas imersivas. O jogo Estacionamento Algorítmico é um jogo interativo para o estudo de códigos html.
O Desafio era criar algum aplicativo para auxiliar os alunos na aprendizagem das disciplinas inicias de programação. Optamos pela criação do jogo Codrastico por proporcionar uma linguagem mais amigável e criativa. Na roterização pensamos em contextualizar esse “sentimento criado” na maioria dos alunos quando se depara com as disciplinas de programação, “programação é algo de outro mundo”. Por isso criamos uma narrativa de imersão com tema de invasão alienígena, onde o jogador tem o desafio de invadir uma nave alienígena para salvar a terra, desvendando enigmas (que no caso são os conteúdos de desenvolvimento web – HTML E CSS). Sobre a narrativa, o jogador pode escolher duas trilhas: a trilha de HTML e de CSS. Ambas possuem enigmas sobre cada tema.
Kelvin Bruno
Paris Encena é um Quiz que apresenta o conteúdo de enquadramentos, movimentos e ângulos de câmera dentro da Linguagem Audiovisual em alguns filmes com locações em Paris.
Em um trabalho de hipermídia, dois elementos principais podem ser trabalhados visando potencializar as narrativas imersivas: os conteúdos e os links. Os conteúdos são imagens, vídeos, áudio, textos etc. Os links são caminhos que fazem a ligação entre esses conteúdos. A história e a forma como ela é apresentada faz toda a diferença, evidentemente, mas os caminhos possíveis e as formas de navegação, com suas surpresa, descobertas, ou decepções são fundamentais para promover uma experiência maravilhosa ou para o fracasso total do material. A estrutura da narrativa é um desafio para os autores e roteiristas tão importante quanto a própria história.